segunda-feira, 22 de julho de 2013

Santa Rita é notícia - Cadeira Ortostática Dinâmica permite que paraplégicos se desloquem de pé

Cadeira Ortostática Dinâmica permite que paraplégicos se desloquem de pé

Projeto foi desenvolvido por estudantes de Santa Rita do Sapucaí (MG)

Estudantes do Ensino Médio da Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa, em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, desenvolveram um dispositivo que poderá causar um grande impacto positivo na vida de pessoas com paraplegia. A Cadeira Ortostática Dinâmica permite que o usuário impossibilitado de mover as pernas realize diversas atividades – inclusive deslocamentos – de pé.

Cadeira Ortostática em teste (Foto: Divulgação)

O dispositivo funciona de uma forma simples: a plataforma da cadeira fica debaixo dos pés do usuário, que prende alguns cintos de segurança em seu corpo. Depois, um botão é pressionado e a pessoa é puxada lentamente, até ficar presa em posição ereta.
A partir daí, o cadeirante pode se deslocar com um joystick ou controle remoto. Para descer, basta fazer o processo inverso: colocar a cadeira de rodas atrás do dispositivo, apertar o botão e, por último, desprender os cintos de segurança. O conjunto de baterias, recarregável em tomadas convencionais, possui autonomia para entre 3 e 7 dias, dependendo do uso. A velocidade pode ser regulada e chega, no máximo, a 7 km/h.

Cadeirante fica preso de pé (Foto: Divulgação)

O projeto teve início no ano passado, quando os estudantes Ana Flávia de Almeida, Tales Valias de Paiva, Thiago Moreira de Carvalho Vieira e Walef Robert Ivo Carvalho estavam no segundo ano do Ensino Médio, e continua sendo aperfeiçoado.
Segundo o professor José Manoel de Oliveira Medeiros, um dos orientadores dos alunos durante o ano passado, cerca de 9 meses foram necessários para a criação do primeiro protótipo. “A intenção era construir algo que pudesse solucionar os problemas de algumas pessoas”, explica.

Segundo ele, os integrantes do grupo eram estimulados a pensarem em dificuldades de pessoas conhecidas que pudessem ser amenizadas. Walef Carvalho, líder do grupo que desenvolveu a cadeira, é um exemplo de como este processo foi importante. “Meu pai sofreu um acidente e ficou paraplégico”, conta. “Consultamos o terapeuta dele sobre alguns aspectos da cadeira ortostática e ele próprio fez alguns testes de segurança”, completa.
Ainda não há previsão de quando a Cadeira Ortostática Dinâmica poderá chegar ao mercado. Walef ressalta, entretanto, que o preço seria em torno de R$ 2 mil, consideravelmente mais barato que uma cadeira de rodas motorizada, que custa cerca de R$ 5 mil.
O grupo agora tenta adaptar o dispositivo para tetraplégicos. “Pensamos em controlar o movimento com o queixo, mas isso poderia prejudicar o pescoço, então, estamos trabalhando em um mecanismo que responda a comandos de voz”, conta.
Outro projeto de alunos da ETE FMC relacionado a inclusão já havia sido destaque no site do Ação: a Visão Interativa para Deficientes, um colete com sensores espalhados pelo corpo, que indica ao cego onde há obstáculos e sua posição em relação ao corpo (próximo da cabeça ou das pernas, por exemplo), e pode vir a substituir o uso de bengalas por deficientes visuais.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Murilo Mendes

O doente do século
Meu coração vai sangrando,
Se desfazendo aos pedaços,
Mas assim mesmo inda tem
Uns pedacinhos de pedra
Que resistem duramente:
A pedra resiste ao vento
De aridez, que vai passando,
Vem rolando, traiçoeiro,
Dos desertos da cabeça.
O vento insinua então:
“Siga firme para a frente,
Deixe a luz à sua direita,
Tome o rumo de Moscou,
Se inebrie com este coro
Que sai vibrante das máquinas,
Fuzile a palavra amém.”
Mas quem sou eu neste mundo
Pra anular a tradição?
Venham, filhas da esperança,
Me levem na padiola
Para o chalé da ternura,
Acendam-me a luz do amor,
Desenrolem seus cabelos
Sobre o meu corpo, senão
Não terei culpa nenhuma
Se me matar amanhã.
(Murilo Mendes)

Persona - Nelson Mandela

Nelson Rolihlahla Mandela  (Mvezo, 18 de Julho de 1918)

Parabéns ao som do lindo Hino da África do Sul.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Na vitrola aqui de casa - How deep is your love

Persona - Bispo do Rosário



Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 14 de Maio de 1909 – Rio de Janeiro, 5 de Julho de 1989)

Arthur Bispo do Rosário viveu por meio século recluso em um hospital psiquiátrico. Transitando entre a realidade e o delírio, acreditava estar encarregado de uma missão divina e utilizava materiais dispensados no hospital para produzir peças que mapeavam sua realidade. Valendo-se da palavra como elemento pulsante, manipulou signos e brincou com a construção e desconstrução de discursos para criar bordados, estandartes e objetos que seriam, posteriormente, consagrados como obras referenciais da arte contemporânea brasileira.
No refúgio de sua cela no Hospital Nacional dos Alienados, na Praia Vermelha, o paciente psiquiátrico produziu mais de mil obras consagradas no mercado internacional de arte contemporânea. Sem se dar conta, Bispo não só driblou os mecanismos de poder no manicômio como utilizou sobras de materiais dispensados no hospital para criar suas obras, inventando um mundo paralelo, feito para Deus.
Pouco se conhece de sua infância e adolescência. O que se sabe é que nasceu na cidade de Jarapatuba, em Sergipe. Uns dizem que em julho de 1909. Outros, em março de 1911. A data mais aceita é 14 de maio de 1909. Aos 16 anos, foi inscrito pelo pai na Escola de Aprendizes de Marinheiros de Sergipe e embarcou num navio como ajudante-geral. Ficou na instituição até 1933, viajando pelo País e colecionando advertências por comportamentos inadequados. Mas também se tornou um bom boxeador. Foi campeão sul-americano na categoria peso-leve.
Quando foi afastado da instituição, estava no litoral do Rio de Janeiro. Sua rotina era perambular pela cidade, fazendo pequenos bicos. Até ser aceito como lavador de bondes da Light. Um dia sofreu um acidente de trabalho. Ao levar o caso à Justiça, conheceu o advogado Humberto Leone, que, sensibilizado, convidou Bispo para morar num quartinho em sua casa. O sergipano tornou-se ajudante geral da família. Tudo ia bem até que vozes mudaram seu destino.

Reconstruir o mundo

Era dezembro de 1938. Bispo disse ao patrão ter visto anjos e ouvido vozes celestiais. Saiu da casa e começou uma peregrinação por igrejas cariocas. No mosteiro de São Bento, anunciou aos monges: “Sou um enviado de Deus, encarregado de julgar os vivos e os mortos”. Detido pela polícia e fichado como “negro e indigente”, foi encaminhado ao hospício da Praia Vermelha. Depois, transferido para a Colônia Juliano Moreira, no subúrbio da cidade. O diagnóstico: esquizofrenia paranoide.
A instituição seria sua casa pelos próximos 50 anos. Na Juliano Moreira, Bispo repetia a história para quem quisesse ouvir: “Vozes dizem para me trancar num quarto e começar a reconstruir o mundo”. E assim fez.
Produzia sem parar, mesmo sob forte medicação e choques elétricos. Os companheiros de manicômio o ajudavam na missão, buscando entulhos e papelões que serviriam para seu trabalho. Às vezes, ficava meses sem sair do quarto, numa jornada de 16, 18 horas por dia. Sete anos depois, a voz reapareceu: “A obra está concluída”.
O que se viu era impressionante. Centenas e centenas de obras de alto valor artístico. Colagens, tapeçarias, estandartes, pinturas, bordados. Tudo com beleza, ineditismo, múltiplos significados. Seguia uma linha convergente ao que se discutia sobre arte contemporânea mundial, mesmo sem ter nenhum contato com influências exteriores.

Cavalheiro e solitário

A fama de Bispo do Rosário se alastrou pela cidade e, depois, pelo País. Houve uma comparação imediata com Marcel Duchamp, o francês que criou o conceito de que objetos do cotidiano poderiam ser levados para o campo das artes. Recebia visitas de estudiosos, artistas, curiosos.
Aos que queriam conhecer seu ateliê improvisado, fazia uma intrigante pergunta: “Qual é a cor do meu semblante?”. Se não gostasse da resposta, encerrava a visita. Para quem o chamava de artista, rebatia: “Não sou artista. Sou orientado pelas vozes para fazer desta maneira”.
Entre as obras de maior impacto, está o Manto da Apresentação, uma veste com um emaranhado de pequenos símbolos e figuras, como tabuleiros de xadrez, mesas de pingue-pongue, ringues de boxe, crucifixos. Destaca-se também uma espécie de Arca de Noé, construída com papelão e pano, destinada a salvar o mundo. Além de uma nave que o levaria para o céu. Suas obras foram expostas em galerias de arte da cidade. Mas Bispo não era muito favorável a que elas saíssem do ateliê. As tratava como filhas, perguntava até se estavam bem.
Era um homem sério, de poucas palavras. Um cavalheiro com as mulheres. Gostava de andar limpo e ficava semanas sem se alimentar. Sentia-se um enviado de Deus, uma espécie de Cristo. Gostava de concurso de misses e quase nunca era violento. Mas sempre solitário.
“Os doentes mentais são como beija-flores: nunca pousam, ficam sempre a dois metros do chão”, costumava dizer. Em 5 de junho de 1989, se sentiu mal e foi atendido no setor médico. Estava muito magro pelos jejuns. Morreria horas depois, vítima de enfarto, aos 80 anos. 
“Ele morreu na solidão de sua cela, sem ver seu império classificado como obra de arte, percorrendo o mundo”,  diz a escritora Luciana Hidalgo, autora de Arthur Bispo do Rosário – O senhor do labirinto (Rocco, 1997). “Mas, aos olhos da crítica e do público, já era um artista.” Após várias exposições pelo País, a obra de Bispo representou o Brasil na prestigiada Bienal de Veneza, na Itália, em 1995. Hoje a Colônia Juliano Moreira não funciona mais como manicômio. O espaço abriga o Museu  Bispo do Rosário de Arte Contemporânea.

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