quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Ninguém vive sem um pouco de poesia... - Cecília Meireles

Naufrágio
Pus o meu sonho num navio

e o navio em cima do mar;

- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
(Cecília Meireles)

Agora ouçam Amália Rodrigues cantando este poema, sem a última estrofe, em forma de fado.


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