sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

As várias Canções do Exílio - 11 - Tom Jobim e Chico Buarque

Compositores também escreveram releituras da Canção do Exílio. Na MPB, o exemplo mais conhecido é a canção "Sabiá", composta por Tom Jobim e Chico Buarque. A música foi composta pelo Tom, intitulada, a princípio, Gávea. Recebeu, em seguida, a letra de Chico Buarque e passou a se chamar Sabiá.
Apresentada no III Festival Internacional da Canção, em 1968, recebeu uma sonora vaia no Maracanãzinho já que concorria com “Prá não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, a preferida pelo público. Foi taxada de alienada e desvinculada da realidade nacional por alguns e de nova “Canção do Exílio” por outros. Apesar de toda rejeição e polêmica, acabou sendo premiada.
Por ironia, no final do mesmo ano, os militares baixaram o AI-5 e fecharam o Congresso. Chico Buarque se viu pressionado a deixar o país. e o sabiá e a palmeira passaram a ser símbolos, também, do exílio político.

Sabiá

Vou voltar!
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir
Cantar uma Sabiá...

Vou voltar!
Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra
De uma palmeira que já não há
Colher a flor que já não dá
E algum amor
Talvez possa espantar
As noites que eu não queria
E anunciar o dia...

Vou voltar!
Sei que ainda vou voltar
Não vai ser em vão
Que fiz tantos planos
De me enganar
Como fiz enganos
De me encontrar
Como fiz estradas
De me perder
Fiz de tudo e nada
De te esquecer...

Vou voltar
Sei que ainda vou voltar
E é pra ficar
Sei que o amor existe
Não sou mais triste
E a nova vida já vai chegar
E a solidão vai se acabar...
E a solidão vai se acabar...

A referência ao sabiá e à palmeira já nos remete à Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, mas de uma forma mais triste, melancólica como que para mostrar que essa volta é impossível.
No reconhecimento de uma pátria esvaziada e sem perspectiva de modificação próxima, Chico usa a negação do símbolo palmeira:

"Vou deitar à sombra
de uma palmeira que já não há
Colher a flor que já não dá"

Na música “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, os valores de sua terra foram destruídos, mas o “eu” poético tem esperança de voltar e encontrar um novo tempo capaz de modificar a realidade destruída. Durante toda a canção aparece a dualidade entre o desejo que se queria real e a realidade que se tem:

“ Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir cantar
Uma sabiá.”

Como numa visão premonitória baseada pela situação do país, o autor da letra percebia a solidão das noites de exílio que iria viver longe das palmeiras e sabiás:

“As noites que eu não queria
E anuncia o dia.”

Mesmo existindo o sentimento de perda, existencial e político, durante toda a música ainda há o desejo do regresso para o lugar de paz – a pátria. Se na Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, a pátria corresponde a um lugar de prazer, na música Sabiá essa pátria foi desfigurada principalmente na sua essência. O exílio é de todos. O regresso, então, seria a volta a uma realidade diferente do regime militar vigente na época:

“Vou voltar!
Sei que ainda vou voltar
Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá
Que eu hei de ouvir
Cantar uma Sabiá”

A esperança do regresso é viva e a saudade tem um sentido social: a recuperação da pátria perdida.

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