quarta-feira, 5 de outubro de 2011

As várias Canções do Exílio - 8 - Sousândrade

Joaquim de Sousa Andrade, conhecido como Sousândrade, pertenceu ao período romântico da Literatura Brasileira. Formou-se em Letras pela Sorbonne, em Paris, onde também estudou Engenharia, permanecendo na Europa por muitos anos. Embora vivendo na mesma época de Casimiro de Abreu, foi um autor além de seu tempo, devido à ousadia de suas obras, que apresentavam características precursoras do Simbolismo e do Modernismo.
As canções de Casimiro remetem explicitamente ao texto de Gonçalves Dias, enquanto a de Sousândrade parece não remeter ao texto da Canção do Exílio. Porém o fato de estar em um país estrangeiro (França - Paris), o desejo de voltar a sua terra natal; o uso dos advérbios aqui e lá como elemento de comparação entre os dois locais, são a marca da reescritura de Sousândrade.
Como Gonçalves Dias em sua Canção do Exílio, também vemos Sousândrade exaltar a natureza nacional, numa forma impregnada de sentimento saudosista de suas raízes, por estar longe de sua terra natal. E como no texto-matriz, o poeta deseja voltar para que possa dar seu último suspiro em sua terra natal.
No poema Harpa XLV, escrito em 1859, o poeta não utiliza as imagens da palmeira e do sabiá e nem apresenta versos simples como Gonçalves Dias, mas através dos mesmos advérbios aqui e lá faz sua Canção do Exílio particular.

Harpa XLV

Eu careço de amar, viver careço
Nos montes do Brasil, no Maranhão,
Dormir aos berros da arenosa praia
Da ruinosa Alcântara, evocando
Amor... Pericuman!... morrer... meu Deus!
Quero fugir d'Europa, nem meus ossos
Descansar em Paris, não quero, não!
Oh! por que a vida desprezei dos lares,
Onde minh'alma sempre forças tinha
Para elevar-se à natureza e os astros?
Aqui tenho somente uma janela
E uma jeira de céu, que uma só nuvem
A seu grado me tira; e o sol me passa
Ave rápida, ou como um cavaleiro:
E lá! a terra toda, este sol todo -
E num céu anilado eu m'envolvia,
Como a água se perde dentro dele.

Ingrato o filho que não ama os berços
Do seu primeiro sol. Eu se algum dia
Tiver de descansar a vida errante,
Caminhos de Paris não me verão:
Através os meus vales solitários
Eu irei me assentar, e as brisas tépidas
Que os meus cabelos pretos perfumavam,
Dos meus cabelos velhos a asa trêmula
Embranquecerão: quando eu nascia
Meu primeiro suspiro elas me deram;
Meu último suspiro lhes darei.

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