Histórias de minha filha - Lógica infantil tem lógica

Lógica infantil tem lógica

Se todas as coisas do mundo, inclusive a gramática, fossem governadas sob a ótica da lógica infantil, provavelmente, as conseqüências seriam bem menos difíceis e trágicas.

Esta historinha aconteceu quando minha filha ainda estava descobrindo as palavras e seus significados. Era uma perguntação de fazer gosto. O dia todo era: Mamãe o que é isso? Mamãe, por quê? Mamãe, o que é essa palavra?

E muitas vezes eu me via na maior saia justa. Como explicar o inexplicável?

Um dia encontramos uma criança que tinha o mesmo nome que o seu e eu disse:

_Olha, ela é sua xará!

E logo veio:

_O que é isso?

_Isso o que?

_Xará, mamãe.

E eu expliquei:

_É quando outra pessoa tem o mesmo nome que o seu. A gente diz que é sua xará. Entendeu filha?

_Hã, hã.

E eu pensei que isso significava sim.

Passado algum tempo, encontramos um garoto chamado Pedro. Ela mais que depressa, querendo se mostrar muito sabida, disse:

_Oh! Ele é xarô do meu colega.

_Xarô?

_É mamãe. O meu colega também se chama Pedro.

Dei uma sonora gargalhada e tentei explicar novamente:

_Não, filha. Quando alguém tem o mesmo nome que outra pessoa, a gente diz que é xará.

E ela mais que depressa:

_Não pode. Ele é me-ni-no.

_Mas, tanto para homem como para mulher, a gente diz xará.

Ela continuou, não aceitando a minha argumentação:

_Não pode. Ele é menino.

E continuou:

_Vovó – Vovô. Xará – Xarô.

_No Português, a língua que nós, brasileiros, falamos é assim, filha. Tem palavras que são iguais para homem e para mulher.

E o que mais eu poderia dizer? Que o Português é uma língua muito esquisita e tem coisas muito doidas e sem explicação?

Ela, então, ficou resmungando:

_Estranho, muito estranho.